Desde criança que algumas vezes surgiam medos
na hora de dormir. É claro que com o desenvolver da personalidade os medos foram se transformando. Quando criança os medos eram do escuro, ou de ficar sozinho, desamparado. À medida que essa pessoa foi crescendo esses medos se modificaram para uma dificuldade de relaxar, de se soltar na cama, o que de uma certa maneira pode se traduzir por um medo do desconhecido, ou medo da morte. Dormir profundamente é como 'morrer' para o ego. No sono profundo, onde não há sequer sonhos, não há ego, não há a pessoa como há em estado de vigília ou de sonhos. Ao começar a relaxar, logo vinha uma falta de ar, um sobressalto e a respiração se agitava. Com o tempo o medo que vinha, na hora de se deitar era um medo do medo que surgia. O horror do medo em si gerava o medo de sentir esse horror mesmo. Não era sempre, mas acontecia às vezes. No dia em que decidi conscientemente enfrentar a situação, trazer a presença e aprofundar as sensações que o medo gerava no meu corpo o que aconteceu foi algo bastante curioso.
Quando a sensação de medo surgiu me conectei com o Ser. Coloquei-me presente, completamente, observando onde surgia a sensação no meu corpo e como a respiração acontecia. Deixei-a tomar conta do corpo e, junto com a respiração, sem tentar expulsá-la, intencionalmente permiti que se aprofundasse. Não modifiquei a respiração. Simplesmente a acompanhei. E a sensação foi se intensificando até que alcançou um pico e a respiração se intensificou naturalmente, e eu, ali, consciente, vivenciando aquela sensação desagradável, porém, livre de julgamentos, de desejos, realmente muito presente, deixando a coisa ser como era. O pico da sensação foi realmente algo libertador, porque eu respirava ofegantemente e o que antes havia se manifestado na região do plexo solar caminhou para o alto e chegou à garganta, até que se esgotou. Então, como que liberta, aquela energia se desfez lentamente. Aos poucos a respiração foi se acalmando... A paz veio se instalando novamente. Demorei um pouco a dormir... mas não tardou tanto quanto antes acontecia nos momentos de medo em que eu resistia a ele. E assim, adormeci e só acordei no dia seguinte, após uma noite tranquila de sono... Hoje posso adormecer com tranquilidade. Digo a mim mesmo: "Agora posso morrer um pouquinho"... e deito, e durmo em paz.
Eu aconselho fortemente a todos. Sinta o medo. Assim também, para qualquer outro sentimento, como tristeza, angústia, etc. Já fiz essa experiência com esses sentimentos que surgem. Eles acontecem devido às impregnações que temos na mente, de experiências vividas, provavelmente, na infância. Não há nenhum problema em vivenciar o que surge! Digo por experiência: No fundo, no fundo, não são sensações nem boas e nem ruins. Quando vc passa a observá-las e 'concordar' com o que são e como são, logo você começa a perceber que você NÃO É elas. São apenas manifestações naturais da mente humana. Não são problemas pessoais... São problemas humanos. Todos as tem. Elas vêm e vão e você apenas as observa. Passa a não haver mais identificação. Sinta medo! Sinta angústia, sinta tristeza! Deixe-as ser aí, agora, como são. Aprofunde-as com o respirar das sensações. Não entre no mecanismo da mente, porque tudo o que ela fará será sugerir outras coisas prá fazer ou pensar. Desça, sem medo, ao seu inferno e permita-se superar o desagradável, porque tudo passa... e no fim das contas, o resultado se revela muito mais compensador. Fugir tem sido a tônica, por anos e anos, ou para um passado, ou para o futuro. Tem adiantado? Somente se supera a dificuldade encarando-a no AGORA, com PRESENÇA plena, livre de julgamentos e desejos, apenas Sendo e deixando Ser.
OM
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